dar voz e conteúdo a um projecto

Para abrir este blogue só consigo pensar numa palavra: Gratidão.
Gratidão, àqueles que acreditaram neste projecto, no seu novo conceito de estar no mercado da arte.
Um modelo que à partida causa alguma desconfiança, porque sai da regra, da normalidade. Um modelo em que o artista não está dependente de subsídios, nem de lobbies, nem de apadrinhamentos.
O artista está como sempre esteve, só, com o seu ofício, deixando que a sua obra fale por si. E é tão grande a sua autonomia e confiança que patrocina a sua própria exposição, a sua vocação, a sua enorme crença no seu talento.
A Arte pela Arte, alguém chamou a este novo modelo associativo.
Acredito que vá crescer e tomar uma proporção inesperada, uma dimensão capaz de sustentar o sonho inicial, o de criar o "Café dos Artistas" num imóvel camarário, aberto a todos, com exposições a decorrer em simultâneo, lugar de conferências e debates, tertúlias e projecções...em suma, um lugar de artistas, um ponto de encontro global, onde a ARTE seja o pólo de aproximação universal, a linguagem comum a todos que o visitem.
Obrigada aos Artistas plásticos, aos privados que apoiam esta iniciativa e a todos os que nos visitarem.

Ana Paula Cabral
23 Nov 2010



quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

de Rodrigo Costa


The Landscape as the Place of Everything




/.../ Em ensaio reflexivo, Rodrigo deixa-nos a sua ideia sobre o tema, “A Paisagem como o Lugar de Tudo”, dizendo-nos, “o que me apaixona não é o que olho, mas o que o que eu vejo me recorda como lugar onde me parece que pertenço”; e a sua paixão evidencia-se no passo seguinte, “porque a luz e as formas não demoram, e pedem-me que seja breve, e obrigam-me ao movimento que me aproxime e possa influenciar outras histórias –movimento: impressão e expressão... num gesto.” Sente-se, neste texto, a forte influência que a paisagem exerce sobre o artista, quando Rodrigo diz “A aragem que me toca é um vício”… Eileen como que se associa e escreve, num dos poemas, “o vento alinha-se, rodeando, abraçando, revendo-me.”

A ideia de ouvir a paisagem provém do modo como Rodrigo evoca as cores, “tingidas por céus e atmosferas que as comungam, entre tons e entre sons”; e como, em simultâneo, Eileen alude a “uma ópera que é riscada no céu” e às “árvores que desfolham e murmuram, orquestrando um coro de brisas”… Ambos cruzam, a propósito das cores, referências que repercutem a reverência à luz. Tal é confirmado em “gritando luz e chumbo e azul e verde e ocre”, de Rodrigo, como em “Índigo… Uma faixa de meia-noite, no lugar onde o azul cai sobre o violeta”, de Eileen.
John Kelly
/.../ Devo, à paisagem, a compreensão do fundamento das sínteses, a resignação compreendida na captação possível do que não se atinge, porque corri atrás das luzes e das sombras, querendo-lhes o retrato, como se todas as lembranças fossem únicas e apenas lembradas em fotografias. Mentira! Pude aprender sobre a cumplicidade da Razão e da emoção, e pude conhecer, na interpretação consciente e aflita, a alusão à harmonia e à harmonia que nos transcende; não sendo mais as mesmas, as composições e as figuras estarão sob céus e odores provindos da Terra como fonte de todos os regressos.

Poderia, esquivo, reduzido e redutor, repito, dizer, tão-só, que a paisagem é um dos meus sítios. Falaria a verdade, mas há nela muito mais do que o mero sinal indelével do livre arbítrio, porque, sem a paisagem, o argumento escassearia; faltaria à Pintura o espaço e o tempo de reflexão, porque não há profundidade sem cenário nem sem princípio: o mundo onde o conhecimento e a lembrança aparecem e a perspectiva e o gesto se reciclam…
Rodrigo Costa

Sem comentários:

Enviar um comentário